O Reformador de Pianos
Em francês, essa profissão leva o nome de lutier e, em português, por falta de tradução, é reformador de pianos mesmo. Muito comum na época em que o Rio de Janeiro mantinha um circuito de salões e recepções para a alta sociedade, hoje os profissionais que se dedicam a consertar pianos são circunscritos apenas ao mundo dos músicos.
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Um exemplar desta raridade é o senhor José da Gama, proprietário de uma oficina de pianos em Quintino Bocaiúva, bairro do subúrbio carioca. Trata-se de um sobrado do início do século XX, de paredes descascadas e de pé-direito alto em frente à estação de trem. O letreiro “O Rei dos Pianos”, já sem cor, não é capaz de revelar o espaço que a loja, fundada em 1938, esconde. No primeiro ambiente que, à primeira vista, parece ser o único, 10 pianos se encontram dispostos de maneira aleatória e não há distinção entre os reformados ou por reformar, entre os que estão ali para serem vendidos, alugados ou entregues a seus donos.
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Por um estreito corredor que se revela bastante comprido, se vêem salas onde são feitos trabalhos específicos. A primeira é a administração. Depois vem outra onde se conserta o maquinário do piano e uma terceira onde se enverniza as partes de madeira. No fim do corredor, percebe-se um cofre e uma máquina de bater ponto que, conforme garante Wallace Matos, administrador da loja, “não são usados há muito tempo. Estão aí só por estar”.
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O corredor desemboca em um galpão onde aproximadamente 50 pianos desmontados sofrem todo o tipo de reparos. À direita, uma outra sala, também apinhada deste instrumento, mantém a atmosfera escura de toda a loja. Ao todo são 10 funcionários. O senhor José da Gama diz que, como não tem lugar onde se aprenda o ofício, “um ensina para o outro” e aponta para um rapaz que segue o afinador a tira-colo.
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O lutier de Quintino conta que passou metade de sua vida – 32 de seus 63 anos – n’O Rei dos Pianos, mas lembra quando jovem, também se dedicava ao instrumento. Não que ele tenha aprendido a tocar piano na infância, mas porque trabalhou numa transportadora de pianos antes de ingressar na loja. Seu filho Marcelo também trabalha na oficina: “Desde menino eu ando por aqui!”.
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Seu José da Gama diz que, há 50 anos, o ramo de pianos era mais lucrativo: “Hoje o teclado e o piano eletrônico têm mais recursos e não precisa de tanto esforço”. Ainda assim, orgulha-se de tocar um negócio “100% artesanal” e cuja maior publicidade é o famoso “boca a boca”. Para o lutier, o segredo da sua loja está na credibilidade e na verdade. “O meu serviço é de qualidade porque meus produtos também são. Gerações de famílias são clientes nossos”.
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